A safra 2024 de café já inicia com perspectivas interessantes quanto a produção, área total e produtividade dos cafezais.
Além da atenção voltada ao clima, produtores devem ficar em alerta à ocorrência de pragas importantes, que podem reduzir, além da produtividade, a qualidade dos frutos colhidos, interferindo assim na qualidade da bebida final, muito apreciada pelos brasileiros e pelo mercado externo.
Pragas como a broca-do-café (Hypothenemus hampei), podem diminuir a produção, causando perdas diretas, que podem ultrapassar os 21% – o que representaria queda de 12,6 kg de café por saca de 60 kg beneficiada. Já os danos indiretos estão relacionados a vida útil do cafezal, visto que a praga pode agir como porta de entrada para patógenos que causam doenças, pela perfuração dos frutos, o que pode causar problemas na indústria, tendo em vista a dificuldade de separação dos grãos brocados, até alteração no sabor da bebida.
No entanto, não é só a broca-do-café possui grandes potenciais de dano para a cultura, pragas como o bicho-mineiro (Leucoptera coffeella) e o ácaro-da-leprose (Brevipalpus phoenicis), também ameaçam a produtividade dos cafezais, podendo causar perdas anuais entre 40% e 80%, requerendo ações integradas para o seu controle, tendo em vista que podem ocorrer de forma simultânea.
Mas o que esperar para a safra 2024 de café?
Perspectivas produtivas
Antes de entrarmos a fundo no desafio das pragas, é importante entendermos as perspectivas esperadas para a produção do café na safra 2024.
Para a área total, a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) estima redução da área total para café conilon em 0,4%, totalizando o cultivo em mais de 430,5 mil hectares. Já para o café arábica, as estimativas são de incremento da área cultivada em 1,1%, passando, assim, para 1,82 milhões de hectares cultivados. Dessa forma, a safra 2024 deve contar com incremento de áreas de produção de 0,8%, totalizando 2,25 milhões de hectares cultivados.
Quando o assunto estende-se para a produção do fruto, os dados são ainda mais animadores. A safra 2024 de café deve ser de mais de 58,08 milhões de sacas, representando incremento de 5,5% ante a safra anterior. Desse quantitativo, o incremento maior será do café conilon (+7,2%). Já o café arábica deve apresentar produção de 40,75 milhões de sacas (+4,7% quando comparado à safra anterior).
O Estado de Minas Gerais deve ser o principal produtor de café arábica (28,83 milhões de sacas), seguido por São Paulo (5,40 mi sc) e Espírito Santo (3,95 mi sc). Já para o café conilon, os maiores produtores devem ser os Estados do Espírito Santo (11,07 mi sc), seguido de Roraima (2,39 mi sc) e da Bahia (2,39 mi sc).
Principais desafios para consolidar as expectativas produtivas
Diante desses dados, é notório que a safra 2024 de café promete uma colheita robusta, com incrementos importantes. No entanto, para que esses números se consolidem, produtores devem enfrentar desafios importantes relacionados à ocorrência de doenças, condições climáticas adversas e incidência de pragas.
Embora os três desafios possuam potencial de reduzir a produtividade da cultura, a ocorrência de pragas pode reduzir a vida útil dos cafezais, assim como a qualidade dos frutos colhidos, interferindo diretamente no rendimento financeiro dos produtores.
Como deve ser o clima?
De acordo com a Conab, as expectativas quanto ao clima, associado ao ano de bienalidade positiva, são favoráveis para a consolidação dos resultados produtivos estimados.
Mas é necessário se manter alerta, tendo em vista que há expectativa de ocorrência de temperaturas acima da média para os principais Estados produtores, favorecendo a ocorrência de algumas pragas que podem surgir em maior intensidade. É relevante salientar que temperaturas mais elevadas aceleram o ciclo reprodutivo das pragas, podendo intensificar seus impactos nas lavouras.
Principais pragas dos cafezais que merecem sua atenção na safra 2024
A cafeicultura no Brasil experimentou transformações significativas após o surgimento da ferrugem (Hemileia vastatrix) em 1970, que impactou diretamente o controle da broca-do-café.
A necessidade de modernização para lidar com a doença levou a um espaçamento maior entre as plantas, alterando o microclima e desencadeando mudanças na ocorrência de pragas. O bicho-mineiro, por exemplo, tornou-se uma praga relevante, e surgiram novos desafios, como lagartas, ácaros e cochonilhas.
A expansão para áreas do Cerrado e outros Estados produtores contribuiu para desequilíbrios biológicos e problemas entomológicos adicionais, exigindo abordagens cuidadosas no controle e no manejo da cultura do café.
Atualmente, embora uma ampla gama de espécies de insetos e ácaros, denominados pragas (devido ao seu potencial de dano e, consequentemente, redução da produtividade dos cafezais), possam ocorrer, algumas são consideradas chave para a cultura, entre elas destacam-se a broca-do-café (H. hampei), o ácaro-da-leprose (B. phoenicis) e o bicho-mineiro (L. coffeella).
No cenário de ocorrência dessas pragas, dois fatores agravam a situação: o primeiro é o fato de muitas moléculas disponíveis no mercado apresentarem redução da eficiência no controle; o segundo é a localização das pragas nas plantas, dificultando a ação dos inseticidas.
Broca-do-café (H. hampei)
Originária do continente africano, a broca-do-café foi introduzida no Brasil muito possivelmente por meio de sementes de café infestadas. Os primeiros relatos da praga foram registrados no Estado de São Paulo, vindo a se disseminar rapidamente nas demais regiões produtoras do país.
Desde então, a broca-do-café conquistou, ano-a-ano, status importante, tendo em vista o seu potencial de danos e suas características biológicas.
A broca-do-café pode ser descrita como um pequeno besouro (o macho tem aproximadamente 1,2 mm, enquanto a fêmea 2 mm), de coloração escura e brilhante. Em média, cada fêmea é capaz de ovipositar até 74 ovos viáveis. O inseto completa seu ciclo entre 17 e 47 dias, podendo viver aproximadamente 156 dias e completar até 7 gerações por ano.
Os danos causados por essa praga incluem:
- perfuração direta dos frutos, onde constroem galerias e as fêmeas ovipositam seus ovos;
- queda prematura e natural de frutos, que pode ser entre 8% e 13% para o café arábica;
- redução de peso pode chegar a 20%;
- depreciação do produto na classificação: 5 grãos brocados ou quebrados equivalem a 1 defeito;
- apodrecimento das sementes, inviabilizando a produção;
- redução da qualidade final da bebida pela presença de fragmentos de insetos e pela qualidade reduzida dos grãos em função da alimentação da larva;
- perdas de rendimento podem ultrapassar os 20%.
Características da praga
A broca-do-café ataca frutos em qualquer estágio, reproduzindo-se apenas dentro das sementes. Durante a entressafra, os adultos abrigam-se nos frutos não colhidos por até cinco meses.
Com até sete gerações anuais, o ciclo varia de 21 a 63 dias, dependendo da temperatura. A infestação geralmente inicia entre outubro e dezembro, período conhecido como “trânsito da broca”. Condições microclimáticas úmidas e temperaturas elevadas favorecem a praga. Lavouras adensadas, áreas irrigadas ou próximas a represas podem ser mais atacadas.
Ácaro-da-leprose (B. phoenicis)
Também conhecido como ácaro-da-mancha-anular, ácaro-plano ou ácaro-da-leprose, B. phoenicis, é uma praga que, além de causar danos aos cafezais pela raspagem da epiderme durante a alimentação, também é responsável pela transmissão da mancha- -anular-do-cafeeiro, uma doença viral importante para a cultura, capaz de causar intensa desfolha, especialmente em períodos de restrição hídrica.
A mancha-anular ocorre principalmente entre os meses de abril e setembro, especialmente em regiões de ocorrência de invernos mais secos.
Sintomas da mancha-anular
Compreendem manchas anelares, especialmente no sentido da nervura principal. Com a evolução dos sintomas, as folhas tornam-se necrosadas. Já nos frutos verdes, as manchas amarronzadas e arredondadas se manifestam durante a granação, interferindo negativamente na qualidade da bebida. O controle é fundamental para evitar a ocorrência da doença na safra seguinte, e para isso, o controle do ácaro-da-leprose é indispensável.
Cabe salientar que, para doenças virais, a principal rota de controle é a eliminação do inseto ou, nesse caso, do ácaro-vetor.
Características do ácaro-da-leprose
Esse aracnídeo é assim conhecido por ser uma importante praga para a cultura do citrus no Brasil.
Os principais sintomas do ácaro-da-leprose incluem:
- desfolha;
- frutos com lesões marrom-clara a negra, podendo estar associados a fungos oportunistas;
- morte de gemas apicais;
- lesões em folhas.
Temperatura de 30 °C favorecem o desenvolvimento desse aracnídeo. O seu ciclo de vida pode variar entre 14 e 17 dias.
Seu ciclo de desenvolvimento é influenciado diretamente pela temperatura, sendo que temperaturas mais elevadas aceleram o seu desenvolvimento. É entre os meses de março e abril que as populações da praga aumentam gradativamente, atingindo seu pico entre os meses de setembro e outubro, especialmente quando as precipitações são menores.
Bicho-mineiro (L. coffeella)
Os prejuízos causados pelo bicho-mineiro resultam na redução da capacidade fotossintética e na queda das folhas, impactando a produção na safra seguinte, que pode ser entre 37% e 80% de prejuízo no rendimento da cultura.
Antes de 1970, sua ocorrência era no período seco, mas passou a afetar também o chuvoso. Populações são mais desenvolvidas em cafezais mais espaçados, especialmente em regiões com temperaturas mais elevadas.
Características do bicho-mineiro
O bicho-mineiro, na fase adulta, é uma mariposa branca de 6,5 mm. A fêmea realiza a postura na face superior da folha e a lagarta, após a eclosão, penetra na folha, alimentando-se durante a fase larval.
Sua presença é identificada por lesões típicas, escurecidas, de contorno irregular, na qual a epiderme é facilmente removida. Essas lesões, iniciando na face dorsal e alcançando a ventral, muitas vezes se unem, resultando na destruição do parênquima foliar.
O ciclo de vida de L. coffeella inclui as fases de ovo, larva, pupa e adulto alado, completando a metamorfose completa. Em condições de temperatura de 25 °C, a fase do ovo dura cerca de cinco dias. A larva leva doze dias e a pupa cinco dias, totalizando aproximadamente 22 dias até a fase adulta.
O período do ciclo varia conforme temperatura, umidade e chuva, sendo os ataques mais intensos na estação seca. O ovo, com cerca de 0,3 mm, tem formato oval e côncavo, com laterais expandidas. Após a eclosão, as larvas emergem dos ovos e penetram no mesofilo foliar.
A lagarta do bicho-mineiro do cafeeiro, ao se alimentar no mesofilo das folhas, cria minas, resultando em necrose, redução da superfície foliar e, consequentemente, menor taxa fotossintética. Esses danos causam desfolha, diminuindo a produtividade da planta e, em casos não tratados, podem levar à morte da planta.
Panorama de controle
Dada a crescente preocupação com a resistência de pragas aos inseticidas, incluindo com pragas consideradas chave para os cafezais, como o bicho-mineiro e a broca-do-café, faz-se necessário que, além de uma abordagem integrada, visando o manejo integrado de pragas (MIP), novas ferramentas de controle sejam utilizadas.
A utilização constante de inseticidas com o mesmo grupo químico pode levar ao desenvolvimento de resistência nas populações de pragas, comprometendo a eficácia desses produtos. Portanto, é essencial rotacionar moléculas com grupos químicos distintos, utilizando-as como ferramenta antirresistência.
Nesse sentido, na vanguarda das inovações para o controle das principais pragas e doenças das culturas agrícolas do Brasil e do mundo, a Syngenta inicia 2024 com mais um grande lançamento para o manejo das principais pragas do café.
Inovação no controle de pragas será a chave para driblar desafios na safra 2024
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